Degradação e ameaça ao Complexo Arqueológico de Kamukuwaká
Coordenadas:
-13.25,-54.02
Ficha Técnica
Conflito Ativo:
Sim
Tipo:
Município:
Gaúcha do Norte-MT
Descrição:
A implantação da BR-242 nas proximidades do Complexo Arqueológico de Kamukuwaká ensejou processos de destruição desse sítio arqueológico, tombado em 8 de junho de 2010. O Complexo abriga a Gruta de Kamukuwaká, localizada em um espaço cênico às margens do Rio Batovi, e que encerra a memória do herói Kamukuwaká, cujo mito fundamenta rituais de iniciação das jovens lideranças. O local está ligado também às divindades Kamo (Sol) e Kejo (Lua), os criadores da humanidade.
O povo Waujá tem uma especial relação com a Gruta de Kamukuwaká, conforme registra o relatório do Iphan: "O ritual Waujá está fundado na esfera política, tendo um papel regulador em termos cosmológicos, vigendo no mundo da cura e da beleza, da ética e da estética."¹
A região do Rio Batovi ainda traz narrativas históricas que explicam "a origem do dia e da noite, do ser humano, dos animais, da criação de utensílios, de técnicas de silvicultura, da medicina, da própria regra matrimonial e conduta social, assim como de importantes rituais que se estendem a todos os povos do Alto Xingu. A área encontra-se fora da Terra Indígena do Xingu, estando, por isso, suscetível a constante depredação antrópica, decorrente de ações de desmatamento, atividades agropecuárias, pesca predatória e vandalismo, praticadas por não indígenas"².
Os Waujá receiam que as implantações da rodovia BR-242 e da ferrovia EF-170 (Ferrogrão) aumentarão o processo de degradação do Complexo Arqueológico de Kamukuwaká, e intensificarão impactos e conflitos socioambientais na região, o que ameaça a sustentabilidade do modo de vida tradicional do seu povo.
Diante da grave situação de impactos da rodovia sobre Kamukuwaká, a aldeia Piyulewene, do povo Waujá, escreveu uma carta com fotografias demonstrando as condições locais, a qual conta, entre outros trechos que ilustram a degradação local, o seguinte:
"Objetivo da visita do local, para que os jovens possam pensar no antepassado, presente e futuro da cerimônia de furação de orelha da nossa história, por isso que levamos também os historiadores Wauja mais velhos. Ao chegar no local, encontramos bastante lixo, por exemplo, copo descartável, embalagem de cerveja, caco de vidro, refrigerante, pinga, escama é osso de peixe etc o que deixou estudantes indígenas Wauja triste ao ver aquela destruição de Meio Ambiente no lugar. (...) O que deixou a todos ainda mais indignado é que vimos que foi tirado um pedaço de pedra com desenhos muito significativo para Waujá. É ressaltamos ainda que nossos velhos nas décadas anteriores, sempre visitaram a cachoeira Kamukuwaká. Nossos velhos sempre visitaram esse lugar, e mesmo alguns mais jovens tinham chegado ali em Kamukuwaka em 2009, e nessa época os desenhos na pedra ainda estavam inteiros, mas agora vimos com nossos próprios olhos (e registramos nas nossas fotos), que Kamukuwaka está sendo detonado. E vimos que realmente tratores de fazendas trabalham muito próximo da cachoeira e da caverna, e preocupamos de que o asfaltamento da BR 242 também se aproxime de lá (pois nunca foi apresentado para nós o traçado dessa estrada)"³.
Com o processo de tombamento⁴, o Iphan estabeleceu um perímetro (1.000 m) de proteção ao sítio, de modo que o traçado da rodovia deveria ser revisado ao menos nesse trecho. Diante disso, a Funai oficiou⁵ o DNIT, inquirindo sobre a alteração do traçado no local, ao que o órgão empreendedor respondeu formalmente, em fevereiro de 2014, que "foi feita alteração do traçado (...) desviando-se 1590 metros, no sentido Sul, da área protegida"⁶. Contudo, aos 03 de outubro de 2016, o Ibama realizou uma vistoria técnica⁷, a qual constatou que o desvio realizado pelo DNIT não passava de 250 metros da cavidade.
As comunidades indígenas locais vivem hoje a incerteza sobre a preservação desse importante sítio arqueológico, diante do processo de depredação já instalado e a incoerência das ações do poder público.
O povo Waujá tem uma especial relação com a Gruta de Kamukuwaká, conforme registra o relatório do Iphan: "O ritual Waujá está fundado na esfera política, tendo um papel regulador em termos cosmológicos, vigendo no mundo da cura e da beleza, da ética e da estética."¹
A região do Rio Batovi ainda traz narrativas históricas que explicam "a origem do dia e da noite, do ser humano, dos animais, da criação de utensílios, de técnicas de silvicultura, da medicina, da própria regra matrimonial e conduta social, assim como de importantes rituais que se estendem a todos os povos do Alto Xingu. A área encontra-se fora da Terra Indígena do Xingu, estando, por isso, suscetível a constante depredação antrópica, decorrente de ações de desmatamento, atividades agropecuárias, pesca predatória e vandalismo, praticadas por não indígenas"².
Os Waujá receiam que as implantações da rodovia BR-242 e da ferrovia EF-170 (Ferrogrão) aumentarão o processo de degradação do Complexo Arqueológico de Kamukuwaká, e intensificarão impactos e conflitos socioambientais na região, o que ameaça a sustentabilidade do modo de vida tradicional do seu povo.
Diante da grave situação de impactos da rodovia sobre Kamukuwaká, a aldeia Piyulewene, do povo Waujá, escreveu uma carta com fotografias demonstrando as condições locais, a qual conta, entre outros trechos que ilustram a degradação local, o seguinte:
"Objetivo da visita do local, para que os jovens possam pensar no antepassado, presente e futuro da cerimônia de furação de orelha da nossa história, por isso que levamos também os historiadores Wauja mais velhos. Ao chegar no local, encontramos bastante lixo, por exemplo, copo descartável, embalagem de cerveja, caco de vidro, refrigerante, pinga, escama é osso de peixe etc o que deixou estudantes indígenas Wauja triste ao ver aquela destruição de Meio Ambiente no lugar. (...) O que deixou a todos ainda mais indignado é que vimos que foi tirado um pedaço de pedra com desenhos muito significativo para Waujá. É ressaltamos ainda que nossos velhos nas décadas anteriores, sempre visitaram a cachoeira Kamukuwaká. Nossos velhos sempre visitaram esse lugar, e mesmo alguns mais jovens tinham chegado ali em Kamukuwaka em 2009, e nessa época os desenhos na pedra ainda estavam inteiros, mas agora vimos com nossos próprios olhos (e registramos nas nossas fotos), que Kamukuwaka está sendo detonado. E vimos que realmente tratores de fazendas trabalham muito próximo da cachoeira e da caverna, e preocupamos de que o asfaltamento da BR 242 também se aproxime de lá (pois nunca foi apresentado para nós o traçado dessa estrada)"³.
Com o processo de tombamento⁴, o Iphan estabeleceu um perímetro (1.000 m) de proteção ao sítio, de modo que o traçado da rodovia deveria ser revisado ao menos nesse trecho. Diante disso, a Funai oficiou⁵ o DNIT, inquirindo sobre a alteração do traçado no local, ao que o órgão empreendedor respondeu formalmente, em fevereiro de 2014, que "foi feita alteração do traçado (...) desviando-se 1590 metros, no sentido Sul, da área protegida"⁶. Contudo, aos 03 de outubro de 2016, o Ibama realizou uma vistoria técnica⁷, a qual constatou que o desvio realizado pelo DNIT não passava de 250 metros da cavidade.
As comunidades indígenas locais vivem hoje a incerteza sobre a preservação desse importante sítio arqueológico, diante do processo de depredação já instalado e a incoerência das ações do poder público.
Atores Envolvidos:
Indígenas
Governo Federal
Direitos em Disputa:
Direitos Indígenas
Diversidade Cultural
Patrimônio Histórico-Cultural
Fontes
Fontes:
1- Relatório Final de Salvamento Arqueológico – BR-242, Mato Grosso
2- Ofício Piyulaga (Waurá) n.º 009/2016 – Comunidade Waurá
3- Denúncia da Aldeia Piyulewene (Terra Indígena do Xingu)
4- Ofício n.º 071/2010/GAB/SE/IPHAN-MT e D.O.U. de 8 de junho de 2010, Seção 3, p. 11
5- Ofício n.º 63/2014/DPDS/FUNAI-MJ